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tenho inveja, admito.

Não resisto a partilhar uma experiência de um colega professor.

ainda sobre aquela professora de línguas, para quem o telemóvel, o microondas e o computador são apenas dissipadores de radiações electromagméticas… e a internet não traz qualquer vantagem, porque é nas enciclopédias que está a informação ( a não ser aos professores de ciências, que precisam de estar mais actualizados, com conteúdos variados) … se ela lê-se este relato..de um professor de história…penso que dizia que ele é louco!

perdoem-me a trascrição…mas faz mais sentido desta forma.

A apresentação.

Não sou Sêtor. Quem me chamar Sêtor “chumba”. Sêtor não existe e é um mau começo para uma escola que se quer de Rigor. O meu nome é João. Ou se precisarem chamar por mim na sala de professores, pedem para chamar pelo “professor João”. Geralmente acompanhado por “aquele que é pequenino”.

– As aulas e o trabalho na disciplina de História.

A todos os alunos dou a texto para ler. Este:

“O educador educa a dor da falta, cognitiva e afectiva, para a construção do prazer. É da falta que nasce o desejo. Educa a aflição da tensão da angústia de desejar. Educa a fome de desejo.
Um dos sintomas de estar vivo é a nossa capacidade de desejar e de nos apaixonar, amar e odiar, destruir e construir.
Somos movidos pelo desejo de crescer, de aprender, e nós, educadores, também de ensinar.
Instrumental importante na vida do ensinar do educador é o ver (observação), o escutar e o falar. Assim como, para estar vivo, não basta o coração batendo, para ver não basta estar de olhos abertos.
Observar, olhar o outro e a si próprio, significa estar atento, buscando o significado do desejo, acompanhar o ritmo do outro buscando sintonia com este.
A observação faz parte da aprendizagem do olhar, que é uma acção altamente movimentada e reflexiva.
Ver é buscar, tentar compreender, ler desejos. Através do seu olhar, o educador também lança seus desejos para o outro.
Para escutar, não basta, também, só ter ouvidos. Escutar envolve receber o ponto de vista do outro (diferente ou similar ao nosso), abrir-se para o entendimento de sua hipótese, identificar-se com sua hipótese, para a compreensão de seu desejo.
Para falar, não basta ter boca, é necessário ter um desejo para comunicar, pois todo desejo pede, busca comunicação com o outro. Também, “todo o desejo é o desejo do outro”. É o outro que me impele a desejar…
É na fala do educador, no ensinar (intervir, devolver, encaminhar), expressão do seu desejo, casado com o desejo que foi lido, compreendido pelo educando, que ele tece o seu ensinar.
Ensinar e aprender são movidos pelo desejo e pela paixão.”

Madalena Freire em “O sentido dramático da aprendizagem”

De há uns anos para cá digo tenho passado este vídeo antes do serão que dou…Vale a pena ver. É uma obra de arte de como deve ser o ensino e a aprendizagem. Melhor que muita teoria…

 


Por fim, o sermão…

Para esta disciplina, este ano, vocês vão suar. Vai doer-vos os olhos, os braços, a cabeça. Vão ficar com pouco tempo. Vão ter que pensar, ler, estudar. Vão ter que fazer esforço. Vão ter que ter dúvidas. Vão ter que ser originais e criativos. Vão ter que olhar o mundo de outra maneira. Vão ter que saber coisas na ponta da língua. Vão ter que olhar tudo à vossa volta e perguntar porquê… Não vai ser fácil. Estudar exige trabalho, esforço. Mas vai ser belo. Porque aprender, saber pensar, ir mais longe é belo por si só.

Acaba o sermão e os alunos olham para mim com um ar de pavor…

É ai que eu dou as regras da disciplina. Nos últimos anos têm sido estas:

a) Todos os alunos irão criar um blog. Todos. Terão semanalmente 45 minutos de uma aula para o actualizar aqui na escola e poderão fazê-lo sempre que desejarem. Este será o vosso portefólio para a disciplina de História.

b) Todos os alunos, já nesta primeira aula, irão criar grupos de trabalho que se manterão até ao fim do ano. Cada um destes grupos terá também ele um blog e será usado o sistema de comunicação da escola (Moodle ou outro). A cada grupo caberá apresentar semanalmente um texto ou artigo ou vídeo nesse espaço sobre a matéria que nos encontramos a analisar nessa altura. Cada grupo ficará com uma perspectiva: económica, política, cultural, religiosa… etc…

c) Por período será obrigatório a leitura de um livro. Para o 10.º ao 12.º ano um dos livros é “O Queijo e os Vermes” e para o 7.º ao 9.º ano é “Uma Aventura na Serra de Sintra”. Os outros geralmente são escolhidos em função dos livros existentes na biblioteca da escola. O último teste de cada período será só sobre o livro.

d) Podem contactar-me sempre via email, telefone ou Messenger (instrumento que vos irá fazer muita falta por experiência de anos anteriores principalmente na véspera dos testes em que não tenho um segundo de descanso a tirar dúvidas). Existirá um blog geral da disciplina de História onde serão colocados desafios (questões) que podem ser respondidas e resumos e material sobre as aulas. Deixo aqui um exemplo: http://blogdehistoriamf.blogspot.com/. Curioso que o núcleo de estágio que existia na escola continuou o meu trabalho.

e) Todos os trabalhos realizados serão debatidos em aula. Sempre que o tempo lectivo o permitir iremos ter apresentações de aulas pelos alunos. Em conjunto iremos organizar conferências com convidados externos à escola.

f) No caso do 12.º ano e só neste caso, os professores, pais e alunos são convidados a escrever um texto de 2 páginas sobre um tema aglutinador (o ano passado foi o Estado Novo) que depois será organizado em forma de livro e proposto a publicação. Já é o 3º ano que estou numa escola onde se publica uma obra com 50 páginas…

– A conclusão.

Tiveram azar. Este ano terão mesmo que trabalhar. Mas juntos somos sempre mais do que só um. Por isso, pensem que estamos cá como uma equipa que irá aprender, construir conhecimento e quem sabe, mudar um pouquinho isto tudo!

eu digo que tenho inveja destes alunos. não sou crítica por natureza. mas se me tivessem estimulado mais a isso…teria crescido mais. tenho a certeza.


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